domingo, 11 de outubro de 2009

Visita Obrigatória


“― Deus me livre do cemitério. Morte comigo, nem de longe! Assim falava dona Cocota Miranda. Era espírita convicta. No entanto, nutria verdadeiro pavor pela morte. Exagerava atitudes e reações.
Naquela tarde, fora convidada pelo esposo a visitar, no próximo dia, o túmulo do genro, desencarnado há dois anos.
Era véspera de finados. A esposa recusara terminantemente.― Cocota – dizia o marido, carinhoso, não decepcione nossa filha. Ela espera sua companhia e conforto, amanhã.
A esposa, entretanto, respondia, incontinenti:― Não irei. Cemitério comigo, nem em dia de finados!― D. Cocota – interferia Joaquim, amigo da família – não lhe custa fazer esta caridade.
É coisa de minutos. Deposita-se uma flor. Faz-se uma prece. É visita de respeito e carinho. Contudo, dona Cocota retrucava com veemência:― Não insistam! Rezo aqui mesmo. Não irei!
À noite, porém, reinou confusão em casa. Acorreram vizinhos pressurosos. Correria de familiares. Médico às pressas. No entanto, tudo foi inútil. A esposa temerosa desencarnara, vítima de fulminante enfarte do miocárdio.
No dia seguinte, quase na mesma hora marcada para a tão discutida visita, dona Cocota Miranda, por bem ou por mal, comparecia, obrigatoriamente ao cemitério.”

Hilário Silva e Valérium. Histórias da vida. Mensagens.

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