
“― Deus me livre do cemitério. Morte comigo, nem de longe! Assim falava dona Cocota Miranda. Era espírita convicta. No entanto, nutria verdadeiro pavor pela morte. Exagerava atitudes e reações.
Naquela tarde, fora convidada pelo esposo a visitar, no próximo dia, o túmulo do genro, desencarnado há dois anos.
Era véspera de finados. A esposa recusara terminantemente.― Cocota – dizia o marido, carinhoso, não decepcione nossa filha. Ela espera sua companhia e conforto, amanhã.
A esposa, entretanto, respondia, incontinenti:― Não irei. Cemitério comigo, nem em dia de finados!― D. Cocota – interferia Joaquim, amigo da família – não lhe custa fazer esta caridade.
É coisa de minutos. Deposita-se uma flor. Faz-se uma prece. É visita de respeito e carinho. Contudo, dona Cocota retrucava com veemência:― Não insistam! Rezo aqui mesmo. Não irei!
À noite, porém, reinou confusão em casa. Acorreram vizinhos pressurosos. Correria de familiares. Médico às pressas. No entanto, tudo foi inútil. A esposa temerosa desencarnara, vítima de fulminante enfarte do miocárdio.
No dia seguinte, quase na mesma hora marcada para a tão discutida visita, dona Cocota Miranda, por bem ou por mal, comparecia, obrigatoriamente ao cemitério.”
Hilário Silva e Valérium. Histórias da vida. Mensagens.
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